Mosaico

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O que acontece com meu Brasil?

Isso é só uma ideia, um rascunho...
A música é mais ou menos essa:

O que acontece com meu Brasil?
É tanta lágrima cheia de vazio
Pra cada letra digital que olho
Ressentimento e divisão
E são tantos que entram em suas gaiolas
Preferem viver assim pra se fechar pro diferente
O encantamento do espelho negro
Só se ouve os ecos do coração
Ah meu amigo, deixa de ser mimado
É possível amar seu inimigo
Construa pontes ao invés de muros
Veja florescer o amor que vai tirar nossa angústia e dor
Bom dia meu bem
Bom dia poesia
De amor e bem
Bom dia meu amor
Bom dia poesia
De graça e cor

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Eleonora

Eleonora tinha 85 anos. Com corriqueiros problemas de saúde, ia com dificuldade para sua cadeira de balanço todos os dias. Já não via a hora passar e a vida tornou-se demasiadamente tediosa. 

Para passar o tempo tentava sintonizar o rádio em alguma estação que lhe agradasse, mesmo assim o tempo se movimentava com a barriga no chão. Não gostava muito da TV, não havia nada que prestasse e odiava ter que mexer no controle remoto, se batia com a quantidade de botões que daquela geringonça. Lia. Revisitava um livro antigo repetidas vezes, mas as vezes cansava de segura-lo.

Então balançava para frente e para trás em sua cadeira. Os movimentos embalavam lembranças de uma vida sofrida. Filhos que lhe esqueceram, netos que não se importavam. A colheita de suas eras não foi das melhores. Seu temperamento expelia as pessoas mais próximas. 

A escuridão alcançava-lhe os olhos cada vez mais. As reclamações de uma vida cresciam e não ajudavam o tempo passar. Entre uma visita e outra contava sempre os mesmos problemas: as dores do corpo, a impossibilidade da independência, a falta de coisas que deixou para fazer depois. Esse depois que nunca chegou. Jamais chegaria. 

E assim, como uma vela que já está no fim, a chama começou a se esvaziar. A luz de si era pequena demais. A escuridão lhe alcançava. Com ela, todos os ressentimentos. A morte e a maldade do mundo lhe faziam companhia. 

Um dia, um neto distraído, lhe trouxe um recém-nascido. Eleonora levantou a sobrancelha e olhou atentamente aquela coisinha tão sensível. O menino bocejou e se esticou no meio do cobertor. 

Então, ela pode segurar a criança no colo e gargalhou o sabor da vida. Gargalhou de alegria. E a chama de sua vela brilhou com mais intensidade. Esqueceu-se da morte e da maldade do mundo. Lembrou que a vida persiste, e persiste em algo tão frágil. Sentiu que viu um milagre. Nesse mundo tão roto, há beleza. 


Respirou a felicidade mais uma vez.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Faltas

Faltas. Marcio convivia com muitos espaços dentro de si.
Procurava preencher com palavras de sucesso. De auto-confinça. E de tempos em tempos sentia o sabor da frustração. Um dia decidiu que venceria e fez de tudo para ser alguém na vida. De tempos em tempos se deparava com o muro da mediocridade. Olhava para a parede de tijolos tão iguais e se reconheceu ali ao lado de uma multidão igualmente insignificante, participante apenas de uma máquina universal que giraria sem sentido para lugar nenhum.

O gosto de vazio apenas aumentava. Marcio continuava olhando ao redor e observava tudo o que não tinha. Tudo o que queria ter. E quanto mais fixava em suas carências, mais espaços havia em seu paladar.

Passou a andar sem sentido, sem rumo, frustrado. Até que tropeçou no asfalto. Bateu a cabeça no chão e sentiu uma verdadeira dor. Sentou-se no meio fio. E viu ali uma flor, e observou a beleza da flor. Viu como ela se vestia tão belamente, e pensou que nenhum um rei da terra já havia se vestido de maneira tão elegante.

Olhou pra cima, enquanto as nuvens dançavam devagar, e viu uma revoada. Não sabia dizer a espécie dos pássaros. Fechou os olhos e ouviu os seus cantos, percebeu a alegria daqueles pequenos bichinhos. Pensou que eles nem trabalhavam, nem plantavam ou colhiam, apenas se divertiam com seus rodopios celestes.

Marcio pouco a pouco foi sentindo os espaços dentro de si ficando pequenos. Passou a ser mais grato a sua vida. Começou a dar mais atenção àquilo que tinha do que não tinha. Passou a se preocupar menos em ser alguém e se incomodar menos com o terror da mediocridade. Passou a olhar as pequenas coisas, as grandes belezas da natureza que se escondiam em seres tão insignificantes.

Andava mais devagar, mas em certa direção. Pensou que o sentido era mais importante que a velocidade.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Aglomerado


Se o ser humano é apenas um aglomerado de genes vitoriosos, então o egoísmo e autopreservação é justificável - não precisamos de um mundo melhor, mas um que proporcione uma melhor evolução e não há outro propósito seja individual ou coletivo. Mas talvez eu seja um fraco que creia que fomos gerados por um Amor Eterno, e vivo em paz porque Deus me colocou uma fé que me faça olhar para o próximo e ter um sentido de vida plena.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Fugitivo do tempo

Paulo não tinha tempo. Vida corrida. Suas horas voavam em supersônicos. Paulo dava bom dia para as pessoas na velocidade do trem bala. Estava sempre correndo. Correndo contra o tempo.

Tantas atividades e tantos projetos. Tantas pessoas para atender, falar, ajudar e se livrar. Paulo corria da casa para o trabalho, do trabalho para a faculdade, da faculdade para o bar, do bar para a cama. Corria para pegar o ônibus, corria para pagar as contas que estavam atrasadas e evitar o nome sujo.

Mas um dia Paulo teve tempo, e quando teve tempo pode sentir a angústia. Percebeu que a falta de tempo era maravilhosa. Mais - era necessária. A falta de tempo era o motivo perfeito para não dar atenção para sua vó doente, para falar com sua namorada, para encontrar os amigos. Percebeu nesse entre-espaço que ter tempo lhe abria um enorme vazio.

Sem falta de tempo não havia desculpas para não terminar as tarefas das mais corriqueiras. Paulo então correu do tempo, para ter falta de tempo e anestesiar-se do vácuo de sua alma...

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Quadrilha atualizada

Nestor lamou Gleise que lamou Richa
que lamou Requião que lamou Izabella
que lamou Lula que lamou Aécio 
que lamou Cunha que lamou Dilma

que lamou Mariana, que nada tinha a ver com a história.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Poeira Digital Movediça

Roberto vivia indignado com as questões do mundo, com as questões universais. Ele acompanhava compulsivamente as principais notícias das redes sociais. Com seus likes e compartilhamento se engajava pelos direitos dos animais, dos humanos, a favor da família, contra a família, a favor da vida, a favor da morte, a favor do casamento, contra o casamento. Roberto se sentia parte do juízo justiceiro confortável em seu smartphone. 

Roberto andava olhando para baixo, mas não para as pessoas, para sua tela brilhante. Esse conforto o irritava, mas não percebia. Como uma coceira, digitava em seu celular, apagando os erros do corretor ortográfico. E isso o irritava mais ainda. 

Roberto se engajou tanto nas questões do mundo que parou de arrumar o quarto, parou de beijar sua esposa, parou de brincar com seus filhos. Afinal, o mundo estava em colapso. Morre leão nas mãos de humanos cruéis. E mais um tropeço no mendigo que atrapalhava seu caminho.

Roberto não tinha tempo para a humanidade, afinal estava resolvendo as questões universais com seus dedos, likes e shares. 

Mais um passo tropeçado num outro humano atrapalhado. E a cada passo, se afundava na areia movediça digital, até que percebeu que estava se afogando em seus salvamentos justiceiros diários. 


Enquanto se afogava, alguém lhe estendeu a mão, mas Roberto não conseguiu alcança-la, pois preferiu digitar hashtag meajudem hashtag socorro hashtag cadeahumanidade.